PEDRO VERSUS O LOBO





De

JUSTIN LOCKE





Tradução de

SÉRGIO VIOTTI


para

For more info, questions, etc., visit the Peter VS. the Wolf Website or the Justin Locke Productions website or


PEDRO VERSUS O LOBO



de Justin Locke





Uma comédia orquestral passada em um tribunal para um público familiar, baseada nos personagens, acontecimentos e na música da história infantil sinfônica Pedro e o Lobo da autoria de Prokofiev.

No início do espetáculo a platéia escurece completamente. Um refletor solitário passeia lentamente pela sala, como se fosse no pátio de uma prisão.

Os percussionistas criam a atmosfera de fuga de uma prisão, com sirenes, tiros, cães latindo, e tudo mais que tiverem a mão.

Ouve-se uma VOZ através de um RÁDIO DE UMA VIATURA POLICIAL, fora de cena. Pode ser a voz do PROMOTOR.



VOZ

Atenção todos os carros! Atenção todos os carros! Fiquem à procura do Lobo. Ele acaba de fugir do zoológico. Tem olhos muito grandes, um nariz muito grande, dentes muito grandes para poder nos comer com mais facilidade, e é considerado perigoso.

(Os efeitos da percussão continuam. Uma porta da sala de concertos é aberta - ao fundo ou ao lado).



LOBO (fora)

Vocês nunca vão me pegar vivo, seus tiras!

(O LOBO entra pelo fundo ou pelo lado, sob um refletor, fazendo um revolver com a mão, o indicador esticado) Tum! Tum! Tum! Te peguei!

PEDRO (fora de cena)

Pegou nada!



LOBO

Peguei sim



Os efeitos sonoros desaparecem. O LOBO entra em cena.



LOBO

Bum! Bum! Bum! Bum! Tenho de me esconder. Tenho de me mancar até tudo isto acabar. Qualquer galinheiro dá pra eu me esconder. Galinheiro? Não é hora de pensar em comida.

Oba! Parece que eu consegui despistar todos eles. (O LOBO avança até o centro do placo, o refletor o segue. A ORQUESTRA continua no escuro.) Pra que é que eu vou me preocupar? Eles nunca vão pensar em me procurar aqui. (Vê o público, reage, improvisa pequenos comentários como "Ora, que é isto agora?" "Essa gente..." etc.) Ei! Escutem aqui! Vocês não estão pensando em dar com a língua nos dentes, estão? Eu sou um LOBO inocente! Vocês acreditam em mim, não acreditam? (O público, espera-se, grita: "Não!") Espera aí! Espera um pouquinho! Eu nunca comi aquela pata! Foi uma armação! Eu é que acabei entrando bem! Não tive um julgamento honesto. Olhem aqui - vamos fazer um acordo. Eu conto pra vocês o que aconteceu no meu julgamento e se vocês ainda acharem que eu sou culpado, então eu me entrego. Tá bom assim? Tá?

(O LOBO deixa o palco. O refletor o segue.)

Quase todos vocês conhecem a história de Pedro e o Lobo. Mas a história que vocês conhecem é só a versão contada pelo Pedro. Poucos dias depois do que aconteceu no campo, perto da casa do avô, o meu caso foi julgado. (A ORQUESTRA começa a fazer os ruídos costumeiros de antes dos concertos.) Eu fui acusado de ter comido a pata. Estavam todo lá, incluindo o Juiz, e o Pedro, o Promotor Público, que estava representando Pedro, e todos os personagens da história...

(O refletor se apaga quando o LOBO termina o monólogo. As luzes sobem no palco. A orquestra ocupa a DIREITA da cena, com o REGENTE perto do centro. Do CENTRO do palco para a ESQUERDA há uma mesa e uma cadeira para o LOBO; um banco, uma cadeira e uma mesa para o PROMOTOR e PEDRO, e para o REPÓRTER DA CORTE, que tem uma máquina estenográfica imensa. Esta máquina vai cuspindo metros e metros de papel durante o julgamento. À ESQUERDA da cena, no CENTRO BAIXO, há uma estante de música e uma cadeira (esta é a plataforma das testemunhas; o LOBO tira a cadeira do lugar e caminha ao redor dela, às vezes, como marcado ou havendo necessidade).

(PEDRO e o PROMOTOR estão sentados à mesa.)



PROMOTOR

Atenção! Atenção! (ele improvisa um texto pedindo silêncio à Orquestra; o REGENTE e o JUIZ entram.) Atenção que o concerto vai ter lugar. O Meritíssimo (diz o nome do regente) à regência.

O Meritíssimo Juiz Informatino, presidindo.



JUIZ

Sentem-se. Sr. Promotor, V. Exa. está pronto para apresentar seu caso?



PROMOTOR

Sim, Meritíssimo.



JUIZ

SR. (diz o nome do regente), V. Exa. está pronto para tocar?



REGENTE

Bem, para ser franco, Meritíssimo, ainda não estamos afinados.



JUIZ

Ainda não afinaram? Pois então façam-no agora, acabem logo com isso. (A ORQUESTRA afina, seguindo o oboé. Se possível, isto deveria ser a verdadeira afinação da orquestra, mas não deve demorar muito tempo.)



JUIZ

(Tão pronto possa, o JUIZ bate o martelo). Agora chega! Vamos começar! (Olha ao redor) Hmmm... está faltando uma coisa.

O PROMOTOR faz indicações, como se para auxiliar o JUIZ.

Ah! Sim! Tragam o acusado! Façam a intimação de Habeas Lupus.

(O LOBO entra. Aparentemente, está sendo empurrado para entrar.)



LOBO

Calma? Quem é que está empurrando? Que armação é esta? Ninguém tem nada contra mim. Quero ver meu advogado.



JUIZ

Sr. LOBO, onde está seu advogado?

LOBO

Eu não preciso de advogado nenhum! Posso me defender sozinho!



JUIZ

Muito, bem, faça como quiser. Sr. Promotor, pode prosseguir com sua acusação contra o Lobo por este crime indigno.



PROMOTOR

Perfeitamente, Meritíssimo. Hoje, apresentaremos evidências de natureza irrefutável que irão provar, sem a menor sombra de dúvida, que o LOBO, na verdade, penetrou no campo ilegalmente, que de fato pregou um grande susto em todo mundo, e que ele é, de fato, CULPADO do mais hediondo crime de PATACÍDIO PREMEDITADO... EM PRIMEIRO GRAU... e o fez numa BOCADA SÓ!



LOBO

Eu não papei aquela pata. Vocês não podem provar nada.



JUIZ

Sr. Lobo, mais uma destas suas interrupções e eu serei obrigado a multá-lo por desrespeito ao concerto. Agora sente-se, fique quieto, como um lobinho bem comportado e ouça essa música tão bonita.



LOBO

Mas eu detesto música!



JUIZ

(Como um pai que tenha perdido a paciência:) Pois é uma grande pena que não goste. E daí?



PROMOTOR

Meritíssimo, se me for permitido, eu gostaria de ler a declaração juramentada do narrador com relação aos acontecimentos que ocorreram no campo naquele dia do referido patacídio.



JUIZ

O narrador não está aqui pessoalmente? Por quê?



PROMOTOR

Porque, Meritíssimo, teríamos de pagar a uma pessoa famosa para ser o narrador, e não temos recursos para tanto.



JUIZ
Sei, sei. Muito bem, então, pode prosseguir.



PROMOTOR

> Um dia de manhã bem cedinho, Pedro abriu a cencela e foi caminhar pelo extenso campo verdejante.

(Com o PROMOTOR narrando, a ORQUESTRA toca Pedro e o Lobo, desde o início até #19. Nota: o sinal ">" significa o início de cada trecho de narração: e o sinal "(>)" indica deixas que venham em rápida seqüência.)

> No galho de uma árvore estava pousado um pequeno passarinho, amigo de Pedro. "Está tudo tão quieto", piou o passarinho, muito alegre.

> Logo apareceu uma Pata, bamboleando satisfeita. Estava toda feliz porque Pedro não tinha fechado a cancela, e resolveu que ia dar um mergulho no pequeno lago logo adiante.

> Vendo a pata, o passarinho voou para a relva, se acomodou perto da pata e bicou seus ombros.

> "Que tipo de pássaro é você, que não pode voar?" Perguntou o passarinho. "E que tipo de pássaro é você, se não pode nadar?" Respondeu a pata, e mergulhou no lago.

> E eles discutiram e discutiram, a pata nadando no lago e o passarinho saltitando na margem.

> Aí, de repente, alguma coisa chamou a atenção de Pedro. Ele percebeu que havia um gato rastejando pela relva.

> O gato pensou: " O passarinho está muito preocupado, discutindo. Eu vou e pego ele." Furtivamente, o gato avançou na sua direção com patas de veludo.

> "Cuidado!" Gritou Pedro, e o passarinho voou no mesmo instante para uma árvore.

> Enquanto a pata grasnava, zangada, para o gato... do meio do lago.

> O gato rastejou ao redor da árvore e pensou: "Será que vale a pena subir tão alto? Quando eu tiver conseguido chegar lá o pássaro já terá voado longe."

> Aí o vovô apareceu. Estava zangado porque Pedro tinha ido para o campo. "É um lugar perigoso." Disse o avô. "Se um lobo saísse da floresta, que é que você faria?"

> Pedro não deu atenção ao que seu avô dizia. Meninos como Pedro, não têm medo de lobo.

> Mas o avô pegou Pedro pela mão, levou para casa e trancou a cancela.

(Música acaba)



JUIZ

Bem... tudo isto é muito interessante. Sr. Lobo, gostaria de interrogar alguma testemunha antes de darmos prosseguimento?



LOBO

Sem a menor dúvida.



JUIZ

Muito bem. Neste caso chame sua primeira testemunha.



LOBO

Chamo para depor... os instrumentos de sopro. O oboé, a flauta, o fagote e o clarinete.

(A ORQUESTRA afina instrumentos para a caminhada dos instrumentos chamados, que se alinham, da direita do palco, a saber: clarinete, fagote, flauta, oboé.)



JUIZ

(Bate o martelo) Ordem na orquestra! (A ORQUESTRA silencia) Se vocês não conseguirem se manter em silêncio eu vou julgar este caso usando uma transcrição para piano. (Para os sopros de madeira.) Levantem as mãos direitas. Juram solenemente tocar as notas, todas as notas e nada além destas notas?



SOPROS DE MADEIRA

Juramos.



JUIZ

Continue



LOBO

Obrigado, Meritíssimo. Agora vejamos... o senhor toca oboé, certo?



OBOÉ

Exato.



LOBO

Então faça-nos ouvir alguma coisa.

(O OBOÉ toca um trecho do TEMA DA PATA)



LOBO

Devo supor que o senhor represente a PATA na história de Pedro e o Lobo?



OBOÉ

É

(Nota: o oboísta deveria estar usando casaca.)



LOBO

Muito interessante... A mim o senhor mais parece um pingüim nesses trajes.



PROMOTOR

Protesto!



JUIZ

Confirmado!

(O OBOÉ vai para outro lado da fila. A FLAUTA caminha até o LOBO.)



LOBO

Muito bem. Muito bem. Então, você toca flauta, não é?



FLAUTA

Sim.



LOBO

Poderia nos tocar o tema do passarinho, por favor?

( A FLAUTA toca um trechinho do tema do passarinho.)



LOBO

Obrigado. Agora, vejamos: poderia dizer ao tribunal que tipo de instrumento é a flauta? Quer dizer, como classificaria este instrumento?



FLAUTA

A flauta é um instrumento de sopro da família das madeiras.

LOBO

Muito bem. E de que foi feita esta flauta?



PROMOTOR

Objeção. É irrelevante.



JUIZ

Indeferido. Isso foi uma coisa que sempre me intrigou. A testemunha deve responder.



FLAUTA

É feita de metal.

(A FLAUTA pode improvisar exemplos , e o Lobo fará outro tanto: prata? níquel? ouro? Bem, mas estes são METAIS, são?)



LOBO

Então é feita de metal. Claro. Um instrumento de sopro de madeira... feito de metal. Pode me dizer qual é a diferença entre madeira e metal? Pode me dizer a diferença entre CERTO e ERRADO? Pode me dizer a diferença entre VERDADE e uma MENTIRA DESLAVADA?



JUIZ

(Aplaude) Isto é que se chama de retórica de primeira ordem, Sr. Lobo!



PROMOTOR

Meritíssimo, eu protesto contra a forma de interrogatório.



JUIZ

Não interrompa. Não é de bom tom. Continue, Sr. Lobo.

(A FLAUTA vai para o outro lado da fila. O FAGOTE se aproxima do LOBO)



LOBO

Sim, Meritíssimo. Muito bem, então... o senhor é o fagote?



FAGOTE

Sou.



LOBO

Poderia, por favor, tocar alguma coisa para nós?

(O FAGOTE toca a parte do tema do avô)



LOBO

Muito obrigado. Quer dizer então... o senhor é o avô, correto?



FAGOTE

Sou.



LOBO

Poderia nos dizer exatamente quantos netos o senhor tem?



PROMOTOR

Objeção. Objeção! Meritíssimo, o Lobo está confundindo a testemunha. O fagote não é o avô.

JUIZ

Mas ele acabou de dizer que era?



PEDRO

Meritíssimo, posso dizer uma coisa?



JUIZ

Claro, Pedro.



PEDRO

Meritíssimo, o fagote é o avô apenas no sentido METAFÓRICO.



JUIZ

No meta - O QUÊ? Do que é que você está falando?



PROMOTOR

Sim, num sentido metafórico. Ele quer dizer, Meritíssimo, que o fagote apenas REPRESENTA o personagem do avô porque o fagote pode produzir notas bem baixas. (graves)



JUIZ

Sim, sim. Compreendo. Acho... meta - o quê?



PEDRO

Metafórico, Meritíssimo.





JUIZ

Perfeito. Confirmado. Sr. Lobo, poderia limitar suas perguntas apenas ao material musical? Trata-se de um concerto, afinal de contas!



LOBO

Claro, Meritíssimo. Então: o senhor é o clarinete e... metaforicamente falando, é o gato?



CLARINETE

Sou.



LOBO

Durante quantas horas por dia o senhor estuda?



PROMOTOR

Objeção, Meritíssimo! Este clarinetista é um músico profissional, e o tribunal pode acreditar que ele chegou aqui hoje sabendo a sua parte.



LOBO

Eu não acredito em nada. Um músico profissional, é? Quer dizer que o senhor está sendo pago para estar aqui hoje?



CLARINETE

Não o suficiente.



LOBO

Mas também não quer dizer, num sentido mais amplo, que o senhor é perito neste instrumento?



CLARINETE

Bem, acho que sim.



LOBO

O senhor ACHA? Estamos pagando o senhor para estar aqui hoje e o senhor ACHA? Neste caso, Sr. Perito Profissional, se importaria de tocar o tema do gato para nós?

(O CLARINETE toca o tema e dá uma nota propositadamente errada)



CLARINETE

Perdão.



LOBO

Um minuto! Isto não me parece ser o tema do gato. Que é que o senhor está tentando aprontar?



CLARINETE

Desculpe. Eu me perdi. Estou nervoso.



PROCURADOR

Meritíssimo, eu contexto. A música é um meio de expressão artística, e deve-se dar margem a uma nota errada, de vez em quando.



LOBO

Nota errada? Nota errada? Que história é essa de nota errada?



PROMOTOR

Todo mundo toca uma notinha errada de vez em quando. Não é um negócio tão importante.



LOBO

Pois eu acho que é um troço muito importante. Isto aqui é um tribunal, está entendendo, não é nenhum concertinho pra criança! (Dirigindo-se aos outros instrumentos de sopro de madeira) Algum de vocês tocou alguma nota errada?

(Os instrumentos respondem estas falas ao mesmo tempo.)



CLARINETE

Bem, se a gente tivesse tido mais tempo pra estudar, e além do mais, minha boca está doendo...



OBOÉ

Tem um monte de sustenidos e bemóis neste trecho, e além do mais, estas palhetas são duras pra gente...



FLAUTA

Ninguém é perfeito, esta chave aqui as vezes prende e...



FAGOTE

Eu estava acompanhando alguém, estas partituras são difíceis de ler...

LOBO

Meritíssimo, como eles próprios admitiram, o depoimento destas testemunhas não é 100% exato. Proponho que este depoimento inexato seja eliminado do registro.

(Os instrumentos de sopro voltam para a orquestra)



JUIZ

Confirmado. Pedimos ao público que ignore o testemunho destes instrumentos.



PROMOTOR

Mas Meritíssimo, isso não pode ser feito! É um absurdo! Eu...



JUIZ

Nem mais uma palavra!



PROMOTOR

Mas Meritíssimo, isso não está certo! Não é justo! Eu contesto.



JUIZ

INDEFERIDO! (Ele bate com o martelo na cabeça do Promotor. Os tímpanos fazer um glissando ascendente para sublinhar o golpe, com pios de pássaros para simbolizar a tortura.) Prossiga com a declaração juramentada do narrador.



PROMOTOR

Sim, Meritíssimo. ( A orquestra executa #19 - #28, como escrito, com o Promotor narrando.)

> Nem bem Pedro deixou o campo, o Lobo saiu da floresta.

> Numa piscadela, o gato trepou na árvore.

> A pata grasnou e, no seu entusiasmo, pulou fora da lagoa.

> Mas não importa o quanto a pata quisesse correr... > não conseguia fugir do Lobo.

> E ele estava chegando mais perto... > mais perto... > alcançando a pata.

> E quando a pegou, de um só golpe, a engoliu.

> Agora, as coisas estavam neste pé: o gato estava sentado num galho,

> O passarinho em outro... > não muito perto do gato.

> E o Lobo andava rodeando, rodeando a árvore, olhando os dois com olhos gulosos.

(A música acaba)



LOBO

Tudo isso é um monte de asneira. Eu nem cheguei perto daquela pata.



PROMOTOR

Então, o que é que você estava fazendo no campo?



LOBO

Bem... Eu estava... Quer dizer... Eu...



PROMOTOR
Fazendo o quê?



LOBO

E desde quando você tem alguma coisa que ver com isso? Larga do meu pé!

(A orquestra toca o tema da pata (#24, Ad lib). O Lobo pára de repente, as mãos no estômago, gemendo)



JUIZ

Senhor Lobo, o senhor está passando bem?



LOBO

Estou... estou, Meritíssimo... Mas é que... É que eu... (Pensa um instante) Eu tenho um sopro no coração, sabe? Eu... eu sou muito fraco. (Abana-se) Toda esta comoção...



PROMOTOR

Será que o senhor também não estaria com um pouquinho de indigestão? Por ter comido uma pata inteirinha?



LOBO

O senhor não pode provar nada! Eu não sou obrigado a aguentar nada disto, tá sabendo? Eu tenho os meus direitos! (Ele improvisa até a música terminar) Assim é melhor.





JUIZ

Senhor Lobo, se não estiver muito doente para prosseguir, poderia chamar a próxima testemunha?



LOBO

Sim, Meritíssimo. Eu chamo para depor - AS CORDAS. (Todas as cordas ficam de pé)



JUIZ

Senhor Lobo, não vamos conseguir que todas elas caibam no banco dos réus. Devem ser, pelo menos, (conta)!



LOBO

Nesse caso, só as primeiras estantes!

(Os intérpretes principais se apresentam. O Lobo puxa a cadeira, para o violoncelista. A orquestra entra para cobrir a passagem.)



JUIZ

Ordem na orquestra! Mais um reboliço de vocês e eu acabo julgando este caso com um sintetizador! Vocês juram tocar as notas, todas as notas, e nada além das notas? Continue.



LOBO

Bem, vamos ver se eu entendi direitinho. Vocês aí, caras, como um grupo, representam Pedro, certo?





CORDAS

Bem, é... tá certo, sim... (etc.)



LOBO

Poderiam tocar um trechinho do tema do Pedro para o tribunal ouvir?



CORDAS

Claro. (Eles executam o início da peça. O Lobo interrompe depois da primeira apresentação do tema.)



LOBO

Obrigado, não precisam repetir, a essa altura todo mundo já sabe como é. Vejamos. Pensem com cuidado antes de responder. Vocês todos concordam quanto a versão do Pedro sobre o que aconteceu no campo?



CORDAS

(Elas se entreolham) Sim, concordamos.



LOBO

Têm certeza absoluta?



CORDAS

Temos.



LOBO

Que simpático! (Ele caçoa) Pedro e seus amiguinhos. ( O Lobo cicia, ridicularizando-os.) (Para Pedro) Vai ver que você não seria tão corajoso se não tivesse a galera todinha com você.



PROMOTOR

Contesto!



JUIZ

Confirmado.



LOBO

Desculpem. Bem, vocês todos disseram que concordavam com a versão que Pedro fez da história, certo? (Para o 2º violino) Você... você é o primeiro violino?



PRIMEIRO VIOLINO

Não, ele não é o primeiro violino, não. É o segundo. Eu sou o primeiro violino.



LOBO

Mil perdões. Então o senhor é o primeiro violino!



PRIMEIRO VIOLINO

Sou. Também sou chamado de "spala".





LOBO

Poderia nos fazer o obséquio de tocar sozinho uma vez?



PRIMEIRO VIOLINO

O senhor quer dizer... para eu fazer um solo?



LOBO

Exatamente. Isso mesmo. Fazer um solo, tocar sozinho.



PRIMEIRO VIOLINO

(No caso dele executar um trecho de concerto com toda a orquestra, ele deve dizer para os outros músicos:) Agora!

(O Primeiro Violino toca ou a Partitura de Bach Nº 3 ou algum trecho vibrante de um concerto com acompanhamento orquestral. Poderia ser: Concerto para Violino de Tchaikovski, Letra "L".)



LOBO

Um momento! Um momento! (Assobia, pára a orquestra. O primeiro violino continua por mais alguns compassos. O Lobo o interrompe.) Eu queria dizer se você não podia tocar o tema do Pedro sozinho.



PRIMEIRO VIOLINO

Isso é fácil.



LOBO

(Depois de um compasso) Agora o segundo violino...

(Depois de mais um compasso) Agora a viola...

(Depois de mais um compasso) Agora o violoncelo...

(Depois de mais dois compassos) E o contra-baixo.

Bem, acho que já ouvimos o suficiente. (A música termina) Meritíssimo, as cordas declararam, sob juramento, que concordam com a versão do Pedro e, no entanto parecem estar tocando notas diferentes em momentos diferentes. Eu...



PROMOTOR

Meritíssimo, eu tenho de protestar. As cordas estão apenas tocando em harmonia entre si. Desta forma, a peça fica mais interessante.

(As Cordas voltam para a orquestra)



JUIZ

Talvez seja mais interessante, Sr. Promotor, mas não pode ser levado em conta como prova no tribunal.



PEDRO

Meritíssimo, o Sr. não entende? As cordas só me representam em um sentido METAFÓRICO.



JUIZ

Não me diga que eu não entendo. Meta - o quê?



PROMOTOR

Metafórico, Meritíssimo, o que significa...



JUIZ

Sr. Promotor...independentemente de...



LOBO

Com sua licença, Meritíssimo, independentemente... essa palavra não existe.



JUIZ

Não fale enquanto eu estiver falando. Sr. Promotor, independentemente do... enfim... do sentido metafórico, o testemunho das cordas é contraditório. O público fica, assim, orientado a não levar em conta este testemunho.



PROMOTOR

Meritíssimo, eu protesto!



JUIZ

Indeferido! (Bate com o martelo na cabeça dele, os tímpanos repetem o glissando, os pássaros voltam a piar)



PROMOTOR

Dadas as circunstâncias, Meritíssimo, tudo que eu posso fazer por hora é dar prosseguimento à narração juramentada.



JUIZ

Dê prosseguimento.



PROMOTOR

( A orquestra toca do #28 ao#38, com o promotor narrando)

>Enquanto o Lobo comia a pata, Pedro, sem medo nenhum, ficou do outro lado da cancela trancada, vendo tudo que estava acontecendo.

>Correu para casa, pegou uma corda resistente e trepou no alto muro de pedras.

> Um dos galhos da árvore ao redor da qual o Lobo estava caminhando, ia até o muro.

> Agarrando o galho.

> Pedro alcançou a árvore rapidamente.

> E Pedro disse ao passarinho: " Desça e voe em círculos ao redor da cabeça do Lobo, mas cuidado para ele não te pegar."

> O passarinho quase batia na cabeça do Lobo com as asas, enquanto o Lobo, zangado, tentava abocanhá-lo, dando mordidas pra uma lado e pro outro.

> Como o passarinho chateou o Lobo! E como o Lobo queria pegá-lo! Mas o passarinho era mais esperto, e não havia nada que o Lobo pudesse fazer.

> Enquanto isto, Pedro preparou um laço e o fez descer com o maior cuidado.

> Pegou o Lobo pelo rabo e deu um puxão com toda força.

> Quando se sentiu preso, o Lobo começou a pular feito louco, tentando se livrar.

> Mas Pedro amarrou a outra ponta da corda na árvore, e quanto mais o Lobo pulava, mais a corda que lhe prendia o rabo apertava mais.

(Música pára)



JUIZ

Sr. Lobo, chame a próxima testemunha.



LOBO

Obrigado, Meritíssimo. Eu chamo... o Percussionista.

(De novo, a orquestra afina durante o trajeto. O Percussionista traz os tímpanos com ele. O Juiz bate o martelo.)



LOBO

Veio depor ou está de mudança?



PROMOTOR

Objeção!



JUIZ

Confirmado.



LOBO

Desculpe. Então, vejamos... o senhor é o Percussionista... e representa os CAÇADORES na história do Pedro e eu, estou certo?

PERCUSSIONISTA

Certo.









LOBO

Muito bem. Agora... Poderia dizer a este tribunal o que é que o QUALIFICA para ser um personagem de uma história sinfônica para crianças?



PERCUSSIONISTA

O que me qualifica para estar aqui é eu ter passado centenas e centenas de horas estudando.



LOBO

Sei, sei. Então, o senhor se importaria de tocar uma nota para nós, só para dar uma demonstração da sua extraordinária perícia técnica?



PERCUSSIONISTA

Claro, com prazer. (Com considerável preparação o PERCUSSIONISTA toca uma nota no tímpano.)



LOBO

De novo, sim, só para ter certeza?



PROMOTOR

Meritíssimo, eu não vejo qual é a finalidade...



JUIZ

Ora, sente-se e fique quieto. Isto é interessante.





LOBO

Obrigado, Meritíssimo. E agora, mais uma vez?

(O PERCUSSIONISTA toca uma nota no tímpano)



LOBO

Dá licença? (Ele pega a vareta, toca uma nota, ri com desprezo) Ora, essa! Está tentando enganar quem? Acha que eu vou acreditar que é preciso centenas de horas de estudo para fazer isso?



PROMOTOR

Meritíssimo, se me for permitido salientar, se bem que pareça simples tocar uma única nota, tocar um instrumento de percussão é uma tarefa muito complexa. Além de ter de executar padrões rítmicos muito complexos, um percussionista tem de ser capaz de tocar praticamente uma centena de instrumentos, como:

(A percussão executa cada instrumento como listado; este segmento deve ser rápido, com o percussionista, ao fim, exausto. A coreografia está na PERCUSSÃO PARTE II.)

Carrilhão, xilofone, chocalho, tamborim, bloco chinês, apito, tambor, bombo, címbalos, tam-tam e, claro os tímpanos.

( Consulte o PERCUSSIONISTA para fazer esta lista. Pode ser mais prático usar instrumentos menores.)

Os tímpanos são um instrumento difícil porque se trata de um instrumento afinado.



JUIZ

O que é que o senhor quer dizer com isso de instrumento afinado?

PROMOTOR

Quer dizer, Meritíssimo, que os tímpanos são afinados de acordo com a tonalidade do trecho a ser tocado. Apertando o pedal, ou soltando um pouco, o músico altera a tensão do tambor. Quando a tensão aumenta (o PERCUSSIONISTA demonstra) o tom se eleva; quando ele levanta o pedal, a tensão no tambor diminui, e o tom abaixa.



JUIZ

Ah... sim... Confirmado, confirmado. Sr. Lobo, o senhor tem mais alguma pergunta para esta testemunha?



LOBO

Apenas uma, MERITÍSSIMO. Já que são os caçadores, se importariam de nos mostrar as suas LICENÇAS?



PERCUSSIONISTA

Licença ? Que licença ?



LOBO

Ora essa ! Sua LICENÇA DE CAÇADOR, é claro. Espero que não estejam caçando por aí sem licença. É ilegal !



JUIZ

Então, onde está sua licença?



PROMOTOR

Meritíssimo, eu sou obrigado a protestar, este homem não esta sendo julgado.



JUIZ

Agora está. E então ?



PERCUSSIONISTA

Meritíssimo, eu não sabia que precisava de licença. Não tenho nenhuma.



PEDRO

Mas Meritíssimo, isso é ridículo! O percussionista só é um caçador num sentido metafórico.



JUIZ

Meta-o quê ?



PROMOTOR E PEDRO

( Desesperados) Metafórico !



JUIZ

Bem, Metafórico ou não, não há desculpas para se ignorar a lei.

(Bate com o martelo ) Multa de trinta pratas ou trinta dias !



PROMOTOR

Meritíssimo, eu contesto!



JUIZ

INDEFERIDO! ( Martelada na cabeça; glissando na percussão; passarinhos )

O PROMOTOR olha para ele cheio de suspeita . O PERCUSSIONISTA se retira, com os tímpanos.



PROMOTOR

Pois muito bem, Meritíssimo. Eu gostaria de dar prosseguimento a declaração juramentada do narrador.

( A ORQUESTRA toca de # 38 a # 43 )



> E aí

> Os caçadores apareceram, saindo da floresta .

> Seguindo a trilha do lobo e atirando enquanto caminhavam.

> Mas Pedro, sentado na árvore, disse : "Não atirem ! O passarinho e eu já pegamos o Lobo ! Agora, ajudem-nos a leva-lo para o jardim zoológico!



( Música termina )



PROMOTOR

Agora, Meritíssimo, eu gostaria de chamar um grupo de testemunhas hostis para depor.



JUIZ

Dê prosseguimento.



PROMOTOR

Eu chamo...as TROMPAS

(As TROMPAS se levantavam. A orquestra afina para cobrir a caminhada)



JUIZ

Ordem! Ordem! Eu conheço uma orquestra que vai ter de ficar aqui depois do concerto para ensaiar a Marcha dos soldadinhos de Chumbo, se não se comportarem . Os senhores entenderam?



ORQUESTRA

Não, não, nós não, quer dizer, nós... (Ad lib)



JUIZ

Ë. Eu achei que não. Continue.



PROMOTOR

Vocês são as TROMPAS, não são?



TROMPAS

Somos.



PROMOTOR

E representam o Lobo na história de Pedro e o Lobo, não representam?



TROMPAS

Representamos.



PROMOTOR

Poderia tocar o tema do Lobo para nós?

( as TROMPAS tocam o tema do Lobo # 19 )

É fato ou não que, no campo os senhores tocaram este tema atemorizante num tom menor E num registro mais baixo, amedrontado a pata, fazendo com que ela pulasse para fora da lagoa, possibilitando que o Lobo a pegasse e comesse DE UM SÓ GOLE?!? Então , verdade ou não ? Não fizeram ? NÃO FIZERAM ISTO? Nem mais uma pergunta.



JUIZ

Sr. Lobo?



LOBO

Meritíssimo, a promotoria que as TROMPAS assustaram a pata ao tocar num tom menor e num registro mais baixo, MAS ... mas... também não podem tocar em tom MAIOR?



TROMPAS

Podemos, claro.

( O Tema do Lobo é ouvido em um tom maior )



LOBO

E talvez em um registro mais alto?



TROMPAS

Claro.

( As TROMPAS tocam parte do tema num registro mais alto numa tonalidade maior )



LOBO

Na verdade, não é possível que a trompa seja um instrumento delicioso, divertido, amigável, brincalhão?



TROMPAS

Mas é claro!

( As três trompas tocam TRIO da Sinfonia Heróica, com acompanhamento orquestral )



PROMOTOR

Parem com isso! Vamos parar?

( As TROMPAS I e II e a ORQUESTRA param, gradualmente, mas a TROMPA III continua a tocar por mais alguns compassos, acabando embaraçada com a atenção que chamou. A Música termina )



PROMOTOR

Eu contesto! CONTESTO! Meritíssimo, isto é Beethoven, não é Prokovief. Isto é absolutamente inadmissível ! O Lobo está tentando manipular o público.



JUIZ

Confirmado! Sr. Lobo, o mínimo que pose fazer é limitar o seu interrogatório a música do século vinte.



PROMOTOR

Perdoe-me Meritíssimo. Sem mais perguntas.



PROMOTOR

Meritíssimo, eu gostaria de terminar a minha apresentação da declaração juramentada do narrador e da música original.



JUIZ

Prossiga



PROMOTOR

> E aí, imaginem o cortejo triunfal: Pedro na frente , e atrás dele os CAÇADORES levando o Lobo.

( A Orquestra toca # 49 até o último tempo de # 51, terminando no Do no Violoncelo e Baixo )

( A Música e a Narração de # 43-49 e de # 51-53 estão cortadas )

( A Música termina )

JUIZ

Sr. Promotor, tem mais outras testemunhas a se apresentar ?

PROMOTOR

Sim, Meritíssimo . Eu chamo para depor... PEDRO

( A Orquestra afina. Pedro encaminha-se para depor. O PROMOTOR tira a estante de música do caminho para não esconder o rosto de Pedro)

JUIZ

Ordem ! Ordem ! Isso. Eu não quero ouvir nem mais um PIO de vocês.

( O oboé produz um pequenino pio com a palha . O Juiz se enfurece)

Você está pedindo, ein? Prossiga.

PROMOTOR

Diga-nos, Pedro, você é um garoto bacana não é ?

PEDRO

Sou, Sim

PROMOTOR

E não ia dizer nenhuma mentira para nós, ia?

PEDRO

Eu, não! É errado mentir

PROMOTOR

Sem dúvida que é, sem dúvida. E tudo que nós ouvimos aqui na narração original é a verdade verdadeira, não é ?

PEDRO

Sem tirar nem pôr.

PROMOTOR

Pedro, ouvi dizer que você é Escoteiro. É verdade?

PEDRO

É sim senhor.

Sem mais perguntas. Sua testemunha.

LOBO

Escoteiro, sim? Humm. Quer dizer que "garotos como Pedro não tem medo de lobos "; não é ? Ha, ha, ha ( Pausa ) SHUUUU !! ( Peter estremece de susto ) Não tem medo de lobos, é? SEM DÚVIDA. Você acredita MESMO que as pessoas aqui vão acreditar nesse monte de mentiras? Você tem um bocado de imaginação, seu danadinho. Além do mais... a verdadeira razão da pata ter sido comida foi que você deixou a cancela aberta !

PROMOTOR

Aí está, Meritíssimo, ele está admitindo!

LOBO

Não admiti coisa nenhuma ! Foi só um Lapsus dentis... quer dizer um lapsus linguae!

PROMOTOR

Está vendo? Ele admitiu !

LOBO

Não admiti NADA . Eu estava...estava... só estava FALANDO num sentido METAFÓRICO.

PEDRO

Meta-o quê?

PROMOTOR

Meta-o quê?

JUIZ

Meta-o quê?

ORQUESTRA

METAFÓRICO !

LOBO

Não se metam nisso! Aqui nada foi provado. Tudo bem, seu fedelho. Você me VIU comendo a pata? Ein? Viu, ein? Ein?

PEDRO

Vi. Vi. Sim. Você correu atrás dela, e correu atrás dela e aí você comeu ela com um bote só. E eu vi!

JUIZ

Mas Pedro...a não ser que você nos apresente uma testemunha que concorde com você, tenho de declarar o lobo inocente. E partindo do princípio que o Lobo é um ADULTO e você é apenas uma CRIANÇA, bem, não tenho escolha a não ser acreditar na versão DELE da história.

PEDRO

Mas Meritíssimo, isto aqui é uma historia pra criança, e os lobos são sempre os culpados nas histórias para crianças.

JUIZ

Eu sei. Mas nós temos que seguir as leis.

LOBO

Seu julgamento é mais do que delicioso, Meritíssimo...quer dizer, desculpe...mais do que JUDICIOSO, da sua parte ( Para Pedro ) E quando eu der com você de novo lá no campo, seu porcariazinha, vamos acertar as contas e você vai ver a parte que te cabe nessa história.

PEDRO

A minha é a parte do vencedor.

LOBO

Qualquer dia deste eu vou ter você para jantar. ( Ri )

PEDRO

E a sua parte... ( Cai em si) A parte . A parte

JUIZ

( Com o martelo erguido) Bem, Pedro, se você não tem mais nada para dizer...

PEDRO

Um momento, Meritíssimo ! Eu gostaria de pedir um pequeno recesso .

( Peter corre ao regente , pega a partitura emprestada, levanta ao Promotor . Durante isto! )

JUIZ

Um recesso? Excelente ! Eu adoro recessos !

LOBO

Meritíssimo, eu contesto!

JUIZ

O recesso? INDEFERIDO! ( Martelada na cabeça do Lobo, com o glissando do tímpano e os passarinhos )

PROMOTOR

Meritíssimo, com a permissão deste tribunal eu gostaria de apresentar uma prova adicional . Pedro me deu à pouco, à parte , a PARTITURA de Pedro e o LOBO . A partitura contém todas as notas que todos os instrumentos diferentes tocam.

LOBO

Que isso tem a ver?

PROMOTOR

Se o Meritíssimo examinar a partitura cuidadosamente vai perceber que além dos instrumentos de que já ouvimos falar, há outros dois instrumentos nesta obra que ainda não se apresentaram. Eu gostaria de chamá-los para prestar seus testemunhos.

JUIZ

Pois muito bem. Chame as testemunhas.

PROMOTOR

Obrigado Meritíssimo. Eu chamo o Trompete e o Trombone.

( ** Verificar se se trata de um Trompete , de um clarim, de uma corneta, e utilizar aqui o nome preciso do instrumento em questão)

Trompete e o Trombone vão ao banco dos réus para depor.

** No original há uma observação que diz: a Trombeta e o Trombone estão vestidos como pessoas "sem caráter "( "no character" , em inglês, significado, além de "sem caráter" , "sem personagem ") como gangsters ou motoqueiros. O baixo e a percussão tocam um tema de jazz à medida que eles se aproximam para depor ( a orquestra não afina desta vez ) . A percussão improvisa para seguir seus movimentos, livremente.

LOBO

( Reclama, improvisando varias observações em contrário à presença dos dois, como: Ei, péra aí. Não pode chamar eles , não . Eles nem estão na história. Assim não dá. Que é que há?

JUIZ

Bem, que isso é verdade, é , Sr. Promotor. Eles não estão na história. Não tenho certeza se posso permitir que testemunhem.

PEDRO ou PROMOTOR

Mas Meritíssimo, eles estão na história sim. Só não representam nenhum personagem.

LOBO

Eu contesto!

JUIZ

Bem, isso é muito fora do comum...mas nós estamos aqui para descobrir a verdade . Continuem.

PROMOTOR

Por favor , relatem ao tribunal exatamente o que aconteceu no campo, usando suas próprias notas. Eu mesmo me encarrego de narrar.

( O PROMOTOR narra enquanto o Trompete e o Trombone executam uma versão "dixieland" dos vários temas. O baixo e a percussão também entram )

Bem, o caso foi mais ou menos o seguinte, o cara ( música dixieland)

De começo, morou, a tal da pata pulou fora do lago ( tambores rapidamente )

E o Lobo se mandou correndo atrás dela no meio das árvores, sacou?

E aí a gente ouviu que nem esse grito assim meio, morou ? ( um som rouquenho, breve )

E aí teve esse barulho estranho de uma boa engolida, cara! ( Engole)

E aí, seu, sabe lá o que é isso, o Lobo, ele voltou, cara ( Trombone, três compassos )

Mas já não tinha mais pata para contar a história.

( A música acaba )

PROMOTOR

Sem mais perguntas, Meritíssimo. Suas testemunhas.

LOBO

Bem, eu estou começando a compreender porque o Sr. Prokofiev deixou vocês fora da versão original. Mas olha, espera um pouco ! ( Para o REPORTER DO TRIBUNAL ) Leia de volta para mim.

REPORTER DO TRIBUNAL

( Lê o que foi escrito na máquina estenográfica ) "Um dia, de manhã bem cedinho, Pedro abriu a cancela e foi caminhar pelo extenso campo verdejante ." ( Canta o" tema de Pedro " ) Dum, dum, tá, dum, dum, dum, ( etc..)

LOBO

Não, não, mais pra frente. ( Rasga as páginas ) Ah. Aqui está. Você disse que me OUVIU comer a pata . Será que um dos dois me viu comendo a pata?

TROMBETA E TROMBONE

Bem... não.

LOBO

Então, como podem ter tanta certeza de que eu a comi?

TROMBETA

Porque temos muito bons ouvidos.

LOBO

Ah. estou vendo que sim! Podem me explicar exatamente porque vocês têm uma audição muito superior a de todos os demais membros da orquestra ?

TROMBONE

Porque não temos de nos sentar em frente ao naipe dos metais.

LOBO

Isso é ridículo. Meritíssimo, devido a uma completa falta de provas, proponho que este julgamento seja anulado.

( A orquestra toca # 53-54 - Tema da Pata )

TROMBETA

Ei, espera um pouco. Está ouvindo isso?

TROMBONE

Estou.

( Eles ficam a cada lado do Lobo, os ouvidos grudados no seu estômago. O Lobo geme com desconforto ).

Eu era capaz de jurar que ouvi uma pata aí dentro.

( A Trombeta e o Trombone voltam para a orquestra )

LOBO

( Segura o estômago, sentindo dor, enquanto durar a música) Vocês estão malucos. Estão escutando coisas. Meritíssimo, o senhor vai levar em consideração o depoimento de testemunhas que não representam nenhum personagem? EU EXIJO QUE ME CONSIDERE INOCENTE !

PROMOTOR

E eu exijo que o senhor o considere culpado!

LOBO

INOCENTE!

PROMOTOR

CULPADO!

LOBO
INOCENTE!

PROMOTOR
CULPADO!

( Repetições ad lib )

LOBO

Então, Meritíssimo ? Qual é a sua decisão ?

JUIZ

Bem...não sei...Não consigo me decidir. Hmm...Antes de chegar a uma decisão gostaria de ouvir a opinião de peritos do público.(Para o público) O público acha que o Lobo é inocente ou culpado? ( Ad lib sobre o ruído do público ) Sabem, isso não está me ajudando muito.

Sr. (diz o nome do regente ) a orquestra tem opinião formada?

REGENTE

Temos, Meritíssimo.

JUIZ

Qual é ?

ORQUESTRA

Culpado!!!

JUIZ
Bem, é um veredito tão bom quanto qualquer outro. Além do mais, eu já estou cheio de tudo isto. Sr. Lobo, este tribunal chegou a conclusão de que o senhor é culpado, conforme a acusação. Eu o sentencio a viver perpetuamente no zoológico. E este concerto está adiado. ( Martelo )

( As luzes baixam com o lobo protestando sua inocência. Ele é deixado de pé, sob o refletor )

LOBO

Mas, Meritíssimo! Não fui eu! Foi tudo uma armação! Eu sou inocente! (Volta a se dirigir ao público, como no inicio) Vocês acreditam em mim, não acreditam ?

PÚBLICO ( Pelo menos é o que se espera ! )

Não !!!!

LOBO

Vocês não sabem nada.

Entra o PROMOTOR

PROMOTOR

Sr. Lobo! Sr. Lobo!

LOBO

Tudo bem. Eu desisto.

PROMOTOR

Sr. Lobo! Escuta essa! O Governador Garotinho decidiu que o senhor é uma espécie de animal em extinção e comutou a sua sentença. Agora o senhor é um Lobo livre!

LOBO

Um Lobo livre?

PROMOTOR

É. E eu quero cumprimentá-lo pela sua defesa brilhante. Estava na cara que o senhor era completamente inocente. E agora, tudo deu certo. E olha aqui... eu sei que o senhor não tem andado muito bem e então eu lhe trouxe esse REMÉDIO PARA O ESTÔMAGO. ( Mostra uma garrafa grande )

LOBO

Mas não era preciso, muito obrigado...

PROMOTOR

Problema nenhum. ( Obriga-o a tomar o remédio) Toma tudinho!! Isso!! Só pode fazer bem. Da próxima vez que o senhor vier à cidade, vamos almoçar juntos. Vejo o senhor mais tarde, Sr. Lobo.

( O palco fica escuro, a não ser por um refletor que acompanha o PROMOTOR que sai pela direita. O lobo está na escuridão total. O PROMOTOR sai ).

Ouve-se ( numa gravação) um imenso arroto. O refletor reage, estremece, reencontra o Lobo. Há penas voando ao redor dele.

LOBO

E daí? Eu estava com fome! Que estava, estava!

( Música entra )

O refletor se apaga. As luzes sobem na orquestra, que executa o trecho final de Pedro e o Lobo

( # 54-FIM )










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